Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Soneto

Sem Razão

Hei-de pedir-te, amor da minha vida,
Que não te vás, assim tão de repente…
Meu peito gela e fica descontente
Imaginando a tua despedida…

Finitude

Acordo no vazio grande
Enquanto o medo ao léu expande…
Voltei no tempo?

Novo Mundo

Atônito morreu o grande brado…
É brando agora o pátrio braço forte.
A liberdade clama à própria morte…
Não soa mais o canto idolatrado…

Vela

Cadavérica morte que avança
Sob os leitos pesados do SUS,
Consumindo a cabal esperança
Dos coitados mortais que seduz…

Soldado Ferido

O soldado ferido lutando
Permanece sofrendo na lida.
Perde sangue, mas inda sangrando
Tece versos, clamor pela vida…

De 4 Em 4 Anos

Imensidões de sepulcrais eventos
amortalhando os musicais e os fados
nas multidões de radicais isentos
esbugalhando angelicais sagrados…

Contrassenso

Amor que desmorona lentamente
na dor que se sucede devagar…
Rancor que renascendo conivente
conforta o coração a lamentar…

Borboletas

As mães das borboletas
recusam-se a voar…
De tristes ficam pretas
e perdem-se a chorar…

O Vulto

Eu vi aquele vulto na parede
tentando proteger alguma cousa
confuso como pássaro que pousa
na vastidão da noute, mas com sede…

Maria

A droga sempre passageira
arrasta muitos aprendizes
na sombra duma mensageira
que os faz pensar que são felizes.