Eterno Descanso
Eis que o fim está próximo, digo,
logo, toda a dor há de findar
e de toda a paz poderei gozar
sem ter o tempo como inimigo.
Eis que o fim está próximo, digo,
logo, toda a dor há de findar
e de toda a paz poderei gozar
sem ter o tempo como inimigo.
O amor à vida apenas nos azeda
torna-nos amargos e ignorantes
ácidos, egoístas e arrogantes
alimentando aquilo que nos veda.
Minh’alma penando nas madrugadas
pagando pecados, esperando a hora
que este mundo a deixará ir embora
loucamente por escuras estradas.
Lá vem a minha querida donzela,
vem dançando entre os vendavais, tão pobre
e faz com que o tempo congele e dobre
nas ruas assombrosas da favela.
Ganho vida ao tocar meu violino
e d’um sonho transcendental acordo
viajando em suas notas, transbordo
num mar calmo, pacífico e divino.
Tempo nada tem além da ilusão
que tudo detêm pois é a razão
que rouba veloz pedaços de vida;
o tempo é algoz, é fera ferida…
A morte indolor pegou-me de jeito
O sonho acabou de ser imperfeito
Lágrima que dói e deixa ferida
rápida, corrói a gota da vida…
Como preso fiquei neste anoitecer maro
Estranho ao que sei; meu belo dia penumbra
Absorvendo esta luz que a alegria ressumbra
o tenro medo induz - futuro - mal ignaro.
Esta vil sensação causa-me uma amargura
que me derrete atroz, matando-me de novo…
E no triste sofrer noutras lágrimas chovo
cansado de morrer nesta densa ternura…
O inferno é aqui. Assim desperto
e quieto, abro os olhos e percebo
que ao acordar nesta terra, recebo
somente amargura; assim desconcerto.
Presa neste céu solitário, a lua
vai morrendo nas noites devagar;
enquanto nós dormimos, a sonhar,
os poetas sua morte atenua…
Está escuro e a coruja aparece
voando e emitindo seu som temido
horripilante canto num grunhido
de medo, até a alegria fenece.
As madrugadas surgem assombrosas
e o lobo, do mal, por elas vagueia
uivando às sombras que à noite permeia
em densas trevas, nuvens tenebrosas…
Uma águia na noute, assusta a coruja,
e um uivo sombrio logo é ouvido
num som de asas no escuro interrompido,
um medo que mata e a morte é lambuja…
Estamos em tempos lilithianos.
Tempos sombrios, amargos e densos
onde os tormentos são bem mais intensos
e arrastam-se por entre os longos anos.
Nossas mentes obscuras e maliciosas
abismaram-se enquanto faziam o mal;
Iludidas distorceram o mapa astral
enquanto cantarolavam vitoriosas.