Já Não É Mais Amor
No passo do ponteiro do relógio
eu, quedo, cauteloso e espavorido
espero o meu fantasma preferido!
Já não é mais amor, é necrológio!
No passo do ponteiro do relógio
eu, quedo, cauteloso e espavorido
espero o meu fantasma preferido!
Já não é mais amor, é necrológio!
O amor que recebi morosamente
bradava no meu peito em alegria
trancando o frenesi que me ocorria
em campos invernais do inconsciente.
Pelos bordéis cruéis da vida louca,
pelas calçadas, de cimento, frias
tu, andarilha perspicaz, seguias
e tua vida suplicava rouca…
A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…
Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…
Deitada, descansando em seus delírios
a bela dama dorme mansamente.
Desconfortável sonha e dentre os círios
passeiam ternos anjos docemente…
O peito pulsa frio como pedra…
Um medo causa danos compulsórios…
Pulmão de pus, de sangue que inda medra
aqueles sonhos belos… Provisórios?
Relembro quando a tua face bela
pairava em meus esparsos pensamentos;
Teus olhos quais pintura numa tela
fitando os meus, molhados, aguacentos.
Aqui, na casa amarga, os meus soluços
afligem vários sonhos ilusórios
fazendo-me sentir os acessórios
da triste sina a machucar-me os pulsos…
O sangue que jorrou morosamente,
marcando um temporal, um infortúnio
foi resultado duma insana mente,
descuido atroz durante um plenilúnio…
Anoitecendo em vendavais incertos
e sucumbindo aos pesadelos tristes
em vãos lamentos lancinantes vistes
a luz final por entre os céus abertos!
Cidades, capitais, famas, pobrezas…
Amores, temporais: Mundo altaneiro?
Igrejas, catedrais: honra ou dinheiro?
Cantores, musicais, notas chinesas…
A seca safra, sacra e santa escreve
mas seus escritos são ardis e vagos
metáforas banais causando estragos
na mente do leitor que inda se atreve
Quando vieste bater em minha porta
como um fantasma pasmo em calafrios
por entre as catacumbas dos vazios,
vi tua natureza quase morta.
São natos semeadores da desgraça;
ingratos causadores de contendas
pregam conhecimentos e usam vendas,
entregam-se à sua própria mordaça.
Desaceleração, brusca frenagem…
barulhos, gritos… Vozes inconstantes;
gemidos, sangue… Dores extasiantes
na palidez de estática paisagem…