Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Gregoriano

Corrida Volátil

Na frequência do medo, perplexo
Afundei em visões e fracassos…
No torpor do desejo e do sexo
A luxúria travou os meus passos…

Vela

Cadavérica morte que avança
Sob os leitos pesados do SUS,
Consumindo a cabal esperança
Dos coitados mortais que seduz…

Soldado Ferido

O soldado ferido lutando
Permanece sofrendo na lida.
Perde sangue, mas inda sangrando
Tece versos, clamor pela vida…

Carência

Na carência do amor consentimos
que o vazio pesado do peito
ultrapasse o mais alto dos cimos.

Magis Ad Summitatem

Nas belezas da vida sonhava
e sonhando queria ser nobre;
a tristeza presente na aljava
e o destino sonâmbulo e pobre…

Angelus Sanctus

Abraçada comigo e nervosa
No hospital esperando o momento
Já cansada com medo e chorosa
Ostentando no seio um alento…

Coitadinha

De cabelos compridos e pretos
ela vem sufocada e chorosa
caminhando no escuro dos guetos
tão vazia a coitada da rosa…

As Asas

Asas negras pairando no escuro
sob as ruas vazias e amargas…
São as asas mortais do futuro
bem abertas, sombrias e largas…

Terminais Incolores

Sinto o peso da morte chegando
terminais incolores e aflitos…
Pinto o rosto cismático e brando
confinado em fatais requisitos…

De Tijolo em Tijolo

Triste sonho a nascer na bateia:
lama, barro e coragem na enxada.
Muito esforço na vida plebeia
resultando no tudo ou no nada.