Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Decassílabo

Novos Cafezais

Cidades, capitais, famas, pobrezas…
Amores, temporais: Mundo altaneiro?
Igrejas, catedrais: honra ou dinheiro?
Cantores, musicais, notas chinesas…

Vacas Magras

A seca safra, sacra e santa escreve
mas seus escritos são ardis e vagos
metáforas banais causando estragos
na mente do leitor que inda se atreve

Augustos Versos

Quando vieste bater em minha porta
como um fantasma pasmo em calafrios
por entre as catacumbas dos vazios,
vi tua natureza quase morta.

Atores Reais

São natos semeadores da desgraça;
ingratos causadores de contendas
pregam conhecimentos e usam vendas,
entregam-se à sua própria mordaça.

O Acidente

Desaceleração, brusca frenagem…
barulhos, gritos… Vozes inconstantes;
gemidos, sangue… Dores extasiantes
na palidez de estática paisagem…

Mantos Abismais

Que do abismo ressurjam densos mantos
escurecendo os traumas dos bons servos;
que os lobisomens comam os eus protervos
que se fingem de bons; de mestres santos.

Duas Estrelas

As brilhantes figuras que fulguras
nesse puro semblante imaculado
trazem-me alento; sinto-me sagrado
por tamanha leveza e por ternuras.

Duas Luas

Ó formas circulares, róseas, belas
formas perfeitas, mágicas, divinas!
De delícias supremas, cruas, finas
das panteísticas formas paralelas!

Compostos Desculturais

Coliformes fecais em letra e verso
nas linhas purulentas dos compostos
dos músicos modernos do perverso
conceito e dos coprólitos expostos!

O Verbo Pobre

Os sonhos doudos doutros homens domam
os sonhos desses homens que não pensam.
Homens que comem, cansam mas condensam;
que casam, caçam, cantam mas não somam…