Ressurreto
Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…
Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…
Pelos bordéis cruéis da vida louca,
pelas calçadas, de cimento, frias
tu, andarilha perspicaz, seguias
e tua vida suplicava rouca…
A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…
Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…
Cavalgo a morte em sepulcrais caminhos
buscando sonhos nebulosos, bravos…
Desejo achar a multidão de escravos
que sofre e chora nos cordéis de espinhos…
Deitada, descansando em seus delírios
a bela dama dorme mansamente.
Desconfortável sonha e dentre os círios
passeiam ternos anjos docemente…
O peito pulsa frio como pedra…
Um medo causa danos compulsórios…
Pulmão de pus, de sangue que inda medra
aqueles sonhos belos… Provisórios?
Relembro quando a tua face bela
pairava em meus esparsos pensamentos;
Teus olhos quais pintura numa tela
fitando os meus, molhados, aguacentos.
Aqui, na casa amarga, os meus soluços
afligem vários sonhos ilusórios
fazendo-me sentir os acessórios
da triste sina a machucar-me os pulsos…
O sangue que jorrou morosamente,
marcando um temporal, um infortúnio
foi resultado duma insana mente,
descuido atroz durante um plenilúnio…
Anoitecendo em vendavais incertos
e sucumbindo aos pesadelos tristes
em vãos lamentos lancinantes vistes
a luz final por entre os céus abertos!
Assim que acordei mirei no horizonte
dois passos andei e os olhos arderam
senti-me mui mal, meus céus forneceram
um sonho abissal na face simbionte
Joguei os fatais jogos ignorantes
navegando em naus feitas por terceiros…
Sofri colisões pelas incessantes
certezas surreais de ideais aborteiros…
A fúnebre voz de lírios augustos
ressoam aqui dentro da minha alma
no eco circular - delírios robustos -
da estrela de luz, luzerna que acalma…
Desapareceu de dentro do peito
o meu coração. O que faço agora?
Emudeço à dor carnal que deflora
a alma em musicais vazios, sem pleito?
Cidades, capitais, famas, pobrezas…
Amores, temporais: Mundo altaneiro?
Igrejas, catedrais: honra ou dinheiro?
Cantores, musicais, notas chinesas…