Gustavo Valério

O Poeta Notívago

NA GAVETA

Gabriel Zanon GarciaGustavo Valério Ferreira

A noite por que passa a negra ave
Varria, tristemente, o véu do mundo…
No denso santuário, a voz suave
Cantava, junto à lira, num segundo.

Surgiu no céu aquela estranha Nave
– Destino permanente do defunto –
Pintando o som amargo e muito grave
Dos prantos que levaram todo assunto.

Jamais sentiu a vida, a pobre moça,
Porquanto esteve triste e sempre insossa,
Mantendo, ainda assim, a branda fé.

Vivia imaginando a própria morte,
E na gaveta amada, num recorte…
Deixou um triste adeus no rodapé.