Entorpecente

Gustavo Valério Ferreira

Cortante qual adaga o peito fura
o teu amor singrou-me loucamente…
Tal gavião audaz na desventura
voei, chorando, ao céu entorpecente.

No meio da jornada tão escura
eu viciado em teu amor fluente
seguia pelo vale da ternura
sem distinguir a morte bem à frente…

Outrora tão feliz eu me encontrava
que me despi da dor, do véu, da trava
diante da doçura tua em molhos…

Agora bem depois da minha entrega
tua alma friamente me renega
enquanto, no caixão, me fita os olhos.