Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Quarteto

O Verde-lodo

O lodo putrefato nas cidades
tem lama, sangue e barro revolvidos
às lágrimas tristonhas de saudades
e a crimes impensáveis cometidos…

Eva

A tarde que retumba os vãos sabores,
a mesma que nos traz as alegrias,
sussurra bem baixinho dissabores
e arrasta-me por foscas rodovias…

Atos Ruços

Dormindo sobre os seios perolados
da airosa dama - deusa dos meus sonhos!
Afundo-me em desejos e pecados
e imerso, tenho intuitos mui bisonhos!

O Estio

Deitar-se em versos do mais ledo horror
ao descrever o tão cruel vazio
É como o altar do meu mais negro amor
chovendo os ais durante o crasso estio…

Já Não É Mais Amor

No passo do ponteiro do relógio
eu, quedo, cauteloso e espavorido
espero o meu fantasma preferido!
Já não é mais amor, é necrológio!

O Violino

O amor que recebi morosamente
bradava no meu peito em alegria
trancando o frenesi que me ocorria
em campos invernais do inconsciente.

Eventos Finais

Descompassos serenos que surgiam
desse céu carregado e solitário
de aflições estelares que desciam
como raio venoso, legatário.

Ressurreto

Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…

A Pedra

A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…

Três Tomos

Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…