soneto

Augustos Versos

Quando vieste bater em minha porta
como um fantasma pasmo em calafrios
por entre as catacumbas dos vazios,
vi tua natureza quase morta.

A tua obscura crença te conforta
e estruturando nela os teus fastios
perdeste o amargo mel dos fugidios
escritores famosos - Alma torta!

Eu não quis ver-te nessa vil desgraça
pois o teu versejar rasgou a pele
do tempo e o despertou do vale de ossos…

Tua literatura sem mordaça
foi tão pura que até hoje repele
a seca safra lírica dos Poços!

Em memória do fabuloso,
eterno e Solitário poeta-mor,
Augusto dos Anjos

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Maus Planos

Os maus planos e seus malfeitores
prendem laços e traços em trapos
desumanos; terríveis farrapos
dominando alguns homens e cores.

Dos maus planos ressurgem horrores
que transformam os homens em sapos
e mulheres em bruxas; tais fiapos
movem cordas malinas e amores.

Dissabores que trazem ferozes
e felizes lembranças atrozes
(castigantes fatores fatais)

desacordam-nos ante os algozes
pesadelos banais dos velozes
desenganos de planos vitais.

Gustavo Valério Ferreira

sexteto

O Povo

São acordos criminosos
que aos gravatas dão poder
à lei juram defender
com seus verbos enganosos
mas são só peões gananciosos
querendo metas bater!

Ante o povo só promessas
de leis e verbas trazer
não cansam de prometer
em mentiras mal expressas
e com fábulas impressas
fazem seu povo sofrer.

Desejo que o povo acorde
e comece a perceber
quem dá tem que receber
inda que alguém não concorde
o povo é seu próprio Lorde
pois do povo é o Poder!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Esportes Alheios

Os amores que tive outrora foram mortes
gradativas e fel infectando o meu sangue.
Agora amargo em dor; os sonhos são meus fortes
enquanto afundo só nesse intenso mangue…

O meu inócuo amor envolveu-se em esportes
alheios; mergulhou até ficar exangue.
A minha alma sorriu ao receber os cortes
na própria pele pura e pálida, mas langue…

Porém nada aprendi exceto o sofrimento
que muito me aturdiu, pôs-me em constrangimento
e depois me humilhou - O pesar me completa.

Os amores em vão são só perdas de tempos
quebram o coração; infames contratempos
mataram-me sem dó… forçaram-me a ser poeta.

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Atores Reais

São natos semeadores da desgraça;
ingratos causadores de contendas
pregam conhecimentos e usam vendas,
entregam-se à sua própria mordaça.

Entre si fazem grupos e fumaça
sinônima das loucas reprimendas;
dissimulam paixões vis e vincendas
enquanto pouco a pouco o mal espaça.

Podem fazer o bem, porém são maus
e suas maldades são também os vaus
que lhes mantém de pé putrefazendo.

Humanos quando não estão atuando
estão quietos dormindo e sussurrando
que são os heróis deste mundo horrendo!

Gustavo Valério Ferreira

notícia

Versos Existenciais é o Novo Livro do Poeta Paraibano Danilo Soares

Versos Existenciais

Em dezembro do ano passado entrevistei o poeta Danilo Soares; conversamos sobre vários acontecimentos da vida do poeta e também sobre o seu primeiro livro, “Versos Substanciais”, lançado no mesmo ano pela editora Hope. O poeta foi bastante receptivo e extrovertido e ainda nos deu a informação de que estava trabalhando na produção do seu segundo livro.

Pois bem, o poeta além de ter nos concedido uma fabulosa entrevista que pode ser conferida aqui e dado a notícia a cerca do novo livro, também nos deu a honra de mostrar um pouquinho do seu novo trabalho que será lançado ainda este ano. O nome da obra é “Versos Existenciais” e traz uma coleção de poemas riquíssimos da cultura nordestina, contos regionalistas e também aborda elementos da cultura indígena.

Danilo Soares

Mas não pense que a obra limita-se a isso! Segundo o autor, a obra também carrega em si frutos da filosofia e da arte.

O livro será publicado pela editora recém-nascida Epopeia, que será ainda mais fortalecida com a finalização dessa incrível obra de arte!

Poema Sufoco Humano

A obra contém ilustrações feitas pela jovem e talentosa Melkenia Miranda, também paraibana que com grande maestria e autenticidade desenvolve incríveis ilustrações que combinam com o teor jovial e ao mesmo tempo regional da obra.

A obra tem muita coisa que a faz ser completa, além das ilustrações lindas produzidas por Melkenia, tem uma diagramação temática e uma capa maravilhosa feita pelo Anderson Costa. Também posso dizer que o livro está bem revisado, pois minha antiga professora, Glicéria Tavares, fora quem esteve responsável. Com isso, estou bem firme para publicar Versos Existenciais. Fizemos um trabalho lindo". - disse Danilo Soares.

Quero parabenizar a todos os envolvidos na produção dessa obra! A capa ficou incrível e acredito fortemente que o trabalho inteiro é de altíssima qualidade!

Estou certo de que essa nova obra do nosso jovem poeta, virá para enriquecer ainda mais a cultura paraibana e nordestina, e mostrar para todos os brasileiros que nossos jovens não morreram para a arte, que ela ainda existe bem vívida e renascente no peito nordestino!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Amazônia

Não é possível medir
o seu imenso valor
pois bem no seu interior
há vidas a evoluir!

Outras formas de existir
que podem causar horror
mas contém raro vigor
e fórmulas de emitir

sons e cantos naturais
belos, puros, colossais
que movem parte dos mundos.

São os coros animais
in natura em musicais
ricos, raros e profundos!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

O Acidente

Desaceleração, brusca frenagem…
barulhos, gritos… Vozes inconstantes;
gemidos, sangue… Dores extasiantes
na palidez de estática paisagem…

Sombra atônita, tácita e selvagem
infeccionou os ares instigantes
com medos, fatos, cores perfurantes
e também com fatal e eterna viagem…

Olhos fechados, corpos bem abertos
na avenida dos casos mal cobertos
há flagrantes flagrados por normais.

O tão nobre acidente cotidiano
teve a repercussão mais forte do ano.
Quem disse que os valores são iguais?

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Mantos Abismais

Que do abismo ressurjam densos mantos
escurecendo os traumas dos bons servos;
que os lobisomens comam os eus protervos
que se fingem de bons; de mestres santos.

Desçam, ó chuvas negras, pelos cantos
asmáticos dos homens; dos seus nervos
arrancando sem dó os vis acervos
maléficos que são tontos e tantos…

Ó mantos negros, véu de morte e sorte
desate-se nos pravos e os aborte;
corte o mal pela raiz antes que cresça.

Chuvas venosas, chuvas redentoras
expurgue as tezes más e malfeitoras
com a tua mais funérea lama espessa!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Duas Estrelas

As brilhantes figuras que fulguras
nesse puro semblante imaculado
trazem-me alento; sinto-me sagrado
por tamanha leveza e por ternuras.

Despejas ternos brilhos às escuras
noites gélidas sobre o meu mofado
e tenro peito e queima-o! Já viciado
estou nesse candor de belezuras!

E quando eu sinto o peso do teu brilho
comprimindo minha alma, livre trilho
em pistas siderais. Como esquecê-las?

Impossível perder tais céus tranquilos
clareados pelos sóis dos teus pupilos
pois os teus olhos são duas estrelas!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Duas Luas

Ó formas circulares, róseas, belas
formas perfeitas, mágicas, divinas!
De delícias supremas, cruas, finas
das panteísticas formas paralelas!

Fórmulas doutras formas, das singelas
noites quentes, sonoras, cristalinas…
Ó formas geradoras de neblinas,
de cantos matinais de áureas gazelas!

Formas aveludadas, castas, leves,
perfumosas e suaves como as neves
pálidas e sutis dos meus anseios.

São as formas das fórmulas mais puras
das quimeras sensuais das formosuras
são as luas celestes dos seus seios!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Compostos Desculturais

Coliformes fecais em letra e verso
nas linhas purulentas dos compostos
dos músicos modernos do perverso
conceito e dos coprólitos expostos!

Líricas infernais, ralés impostos
roubados dos ouvintes do universo;
Dissimulados néscios bem dispostos
a lucrar o regalo controverso.

Tais produtores são alcoviteiros
dos intérpretes fracos e albardeiros,
portadores ignóbeis duma insana

descultura nojenta, dejeta e oca…
Representam um grupo onde a boca
faz a mesma função da cloaca humana.

Gustavo Valério Ferreira

soneto

O Verbo Pobre

Os sonhos doudos doutros homens domam
os sonhos desses homens que não pensam.
Homens que comem, cansam mas condensam;
que casam, caçam, cantam mas não somam…

Os planos toscos doutros bichos tomam
os planos bons dos bichos que compensam.
Bichos que traem para que outros vençam
que roubam, matam para que os seus comam.

Bicho-homem, homem-bicho no lixão
terrestre tal campestre cava o chão
à procura dos restos que lhe restam…

Pobre homem, bicho pobre no caixão
da má sorte minguando o corte à mão
formal dos santos pravos que lhe crestam.

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Traços

Trago traços e traumas intratáveis;
são travas que me trancam e atrapalham
os transes cerebrais que mui trabalham
mas não traduzem fatos imutáveis…

Transcrevo os trapos, tratos degradáveis
que trazem à luz tramas que se espalham
em trágicos lençóis crus que achincalham
minha vida de trevas transitáveis.

São trágicas heranças trapaceiras
genéticas triviais alvissareiras
destroços imortais das travessias.

Transmudam-me com trajes de vergonha
transladando e velando a alma que sonha
transcender-se no espaço em ondas frias.

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Mais Uma Dor

Mais uma dor que chega, chega e fica
trepidando no peito amargurado
despedaçando o amor desperdiçado
dentro do coração que petrifica.

É um raio que nada significa
nesse círculo atroz agalopado;
é viagem pelo tempo tresloucado
que nos mata, nos sangra e estratifica!

E essa dor que chegou amordaçando
o breve sonhador que soluçando
acorda em choro e pranto alucinado

Vai no seu peito preto congelando
as sensações que outrora memorando
o tornara capaz de ser alado!

Gustavo Valério Ferreira

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