quarteto

O Violino

O amor que recebi morosamente
bradava no meu peito em alegria
trancando o frenesi que me ocorria
em campos invernais do inconsciente.

O amor que recebi forçosamente
sorveu-me o coração adulterino
e em troca colocou um violino
que toca musicais pulsantemente!

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

Eventos Finais

Descompassos serenos que surgiam
desse céu carregado e solitário
de aflições estelares que desciam
como raio venoso, legatário.

Tempestades tranquilas (pavorosas)
caem fortes nas vidas depravadas
libertando-as das cousas vergonhosas
(falsas cores à beira das estradas).

Os eventos finais que aconteceram
nessa Terra vulgívaga de medo
expurgaram os homens que venderam
almas como se fossem de brinquedo.

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

Ressurreto

Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…

Cansado e triste, adormeço triscado
farto daqueles amores espúrios.
Não consegui evitar os perjúrios
enquanto louco cedi ao pecado…

Agora calmo, mantenho o desejo
rijo e veloz de mudar fatalmente.
Fui ressurreto do caos novamente
e contra os males anseios pelejo!

Gustavo Valério Ferreira

soneto

Rota Oposta

Pelos bordéis cruéis da vida louca,
pelas calçadas, de cimento, frias
tu, andarilha perspicaz, seguias
e tua vida suplicava rouca…

Pelas cidades como chuva pouca
eras levada pelas ventanias
sem forças para levantar, sofrias
eras rebelde, mui teimosa e mouca…

Não entendia teu ardil caminho
Nem os motivos pra guardar o ninho
Envolto em dor, flagelos e mistério…

Agora choro sem qualquer resposta
Pois encontramos uma rota oposta:
Eu no hospital e tu no cemitério.

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

A Pedra

A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…

Tal ser se achava amargo e mui perdido
pisando sobre todos que encontrava.
Seu coração em dor fluía lava
de frustrações e um ódio reprimido.

Lutava tanto contra o seu barulho
que internamente muito lhe aturdia
nada o mudava pois nem ele via
que a pedra apenas era o seu orgulho.

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

Três Tomos

Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…

Tragédias ou comédias são bem-vindas
em tempos idos, pálidos e caros?
Risonho o triste ri dos seus disparos
errôneos alvos, vidas vis e findas…

Por quanto tempo vemos a mentira
periclitando e bagunçando tudo?
Acordaremos desse sono mudo?
Morremos só enquanto o mundo gira…

Perdemos horas, tempos e promessas
fingindo ser aquilo que não somos.
Envelhecemos murchos em três tomos
e vemos como as vidas são possessas.

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

Espelho Milenar

Cavalgo a morte em sepulcrais caminhos
buscando sonhos nebulosos, bravos…
Desejo achar a multidão de escravos
que sofre e chora nos cordéis de espinhos…

E quando achá-la inundarei os mundos
suspensos sós em vermelhões e medos
de cantos puros, ancestrais e ledos
no espelho níveo dos mortais segundos!

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

A Bela Dama Dorme

Deitada, descansando em seus delírios
a bela dama dorme mansamente.
Desconfortável sonha e dentre os círios
passeiam ternos anjos docemente…

No sonho, flores raras floresciam
por dentro do seu peito e então brilhavam
e como supernovas reluziam
nos céus escuros que lhe atormentavam…

O sonho parecia ser eterno
pra bela dama ali, acomodada…
Que Deus com todo O Seu Amor paterno
conceda que ela não descubra nada.

A dor do sono etéreo cresceria
e não alentaria a filha amada
se descobrisse que de amor morria
seu velho pai ali na madrugada.

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

As Asas

Asas negras pairando no escuro
sob as ruas vazias e amargas…
São as asas mortais do futuro
bem abertas, sombrias e largas…

Apesar de soturnas e leves
trazem pesos e dores e invernos…
No silêncio das noites, em neves
caem sobre os casebres modernos…

Asas brancas pairando nos ares
sob as casas em choro profundo…
São as asas vitais, tissulares
equilíbrios das dores do mundo!

Gustavo Valério Ferreira

quarteto

Danos Compulsórios

O peito pulsa frio como pedra…
Um medo causa danos compulsórios…
Pulmão de pus, de sangue que inda medra
aqueles sonhos belos… Provisórios?

Alertas causam pânicos e panes…
O medo pausa o peito tão descente…
Enfrente o mal de frente, não enganes…
O engano traz derrota permanente.

E o medo, a dor e o peso sufocantes?
Farás cordões vitais indivisíveis!
Terei assim vitórias confortantes?
Importa ter a vida ou sonhos críveis?

Gustavo Valério Ferreira

narrações

A Tempestade - Luciano Dídimo

Como sabem, também faço narrações, edição e produção de videopoemas.
Esse é um deles que fiz para o poeta cearense Luciano Dídimo.






Gustavo Valério Ferreira

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