Minh’alma penando nas madrugadas pagando pecados, esperando a hora que este mundo a deixará ir embora loucamente por escuras estradas.
E arrastando-se em eternas calçadas ela grita, resmunga, canta e chora; sua tristeza, aos poucos a devora co’ antigas lembranças deturpadas…
Sua bondade, devagar, deflora em novas memórias tão desgraçadas que colidiram nos tempos, outrora…
E perdida entre outras almas penadas, no vazio que em nada colabora morre nas sombras anastomosadas.
Gustavo Valério Ferreira 17/06/2018 Lá vem a minha querida donzela, vem dançando entre os vendavais, tão pobre e faz com que o tempo congele e dobre nas ruas assombrosas da favela.
Anda, parando o vento com cautela distraindo a todos com seu ar nobre cegando-os do mal que seu mel encobre da maneira mais mortal e singela.
O vento pérfido e candor descobre que uma pureza divinal daquela é algo raro e dalgum bem exprobre…
E descobriu que ela é uma sentinela e o seu coração é um estranho alfobre do mal e da morte que habita nela.
Gustavo Valério Ferreira 16/06/2018 Ganho vida ao tocar meu violino e d’um sonho transcendental acordo viajando em suas notas, transbordo num mar calmo, pacífico e divino.
Um beija-flor me beija matutino e eu, bem delicadamente, o abordo; prendo-me em suas asas; vou à bordo do acaso certo como peregrino.
Este céu azul me atrai e eu concordo decolo sem medo num desatino pois sou do céu! Sou livre como um tordo!
E voando em busca do meu destino do meu novo violino, recordo então volto ao meu mundo clandestino.
Gustavo Valério Ferreira 11/06/2018 Tempo nada tem além da ilusão que tudo detêm pois é a razão que rouba veloz pedaços de vida; o tempo é algoz, é fera ferida…
É morte a matar, é uma diástole de vida a findar na última sístole… É brisa do mar na eterna partida; leão a bradar - paixão elidida…
E nada farei num longo minuto calado chorei num pranto fajuto O tempo é o rei de todos os lutos.
Meu sonho já foi em casos volutos deixados depois num raso estatuto. Morremos nós dois - tempo tem tributo.
Gustavo Valério Ferreira 03/06/2018 A morte indolor pegou-me de jeito O sonho acabou de ser imperfeito Lágrima que dói e deixa ferida rápida, corrói a gota da vida…
Sem sono pretendo ofuscar a luz que não compreendo, assaz me seduz trava, queima e turva essa morte senra retorce e recurva a minh’alma tenra…
A morte fugaz, no obscuro conduz essa amarga paz que imperfeita induz o cruel cordão que força essa lida
numa queimação forte e imerecida. Morte desejada, amante do fim Vida mal passada encontra estufim.
Gustavo Valério Ferreira 02/06/2018 Como preso fiquei neste anoitecer maro Estranho ao que sei; meu belo dia penumbra Absorvendo esta luz que a alegria ressumbra o tenro medo induz - futuro - mal ignaro.
Necessário calor escurecendo o claro; É doce, a gentil dor, nosso fôlego lumbra… A vida é torpor que nos dias obumbra chamada só de amor, pros loucos anteparo.
A morte é o condão que no humano vislumbra E o nosso coração, tão fraco se deslumbra e morto, vai ao chão, vê na cova um amparo.
E fiquei preso aqui, onde o canto reslumbra E num vulpino fim, a alma, cansada, alumbra e no último sorrir, paga o preço mais caro.
Gustavo Valério Ferreira 30/05/2018 Esta vil sensação causa-me uma amargura que me derrete atroz, matando-me de novo… E no triste sofrer noutras lágrimas chovo cansado de morrer nesta densa ternura…
Não há fogo a queimar mas este mundo é covo e as torturas aqui são parte da cultura… Sensação do que fui é abreviatura mediante o que sou neste inferno retovo…
E sofro nesta dor, perco até a postura neste mundo sem cor de cruel tessitura em que há amargo mel, que amargamente provo…
Mas é meu novo lar, minha nova estrutura Aqui, quero reinar; serei outra criatura… Quando se apaga a luz, todo o teu mundo estrovo.
Gustavo Valério Ferreira 29/05/2018 O inferno é aqui. Assim desperto e quieto, abro os olhos e percebo que ao acordar nesta terra, recebo somente amargura; assim desconcerto.
Na sociedade como um mancebo observo tudo; vejo o mal coberto, consigo sentir o terror de perto, quanto mais da realidade bebo.
E desenhando meu destino incerto projeto nele, todo o mal enxerto enquanto graça ao demônio, concebo…
E de todo o sentimento, liberto enfrento o inferno; com o obscuro flerto e infiro que a bondade é placebo.
Gustavo Valério Ferreira 27/05/2018 Presa neste céu solitário, a lua vai morrendo nas noites devagar; enquanto nós dormimos, a sonhar, os poetas sua morte atenua…
Talvez já seja o fantasma da lua na escuridão longínqua a postergar a morte que cedo ou tarde virá (a morte que co’ a vida compactua)…
E quando este dia ruim chegar a lua, aos poucos, se apagará na solidão terna que à noite estua…
Sem enfeites o céu não brilhará, o namorado não namorará e o amor perder-se-á no meio da rua…
Gustavo Valério Ferreira 25/05/2018 Está escuro e a coruja aparece voando e emitindo seu som temido horripilante canto num grunhido de medo, até a alegria fenece.
E esse medo, em mim, inda permanece; em arrepios, fico estarrecido, sem qualquer ação, travado e tolhido… Só me resta iniciar uma prece.
A coruja, num eco combalido deixou-me levemente entorpecido e assim, minha vaga vida esmorece…
E a coruja, num ataque aturdido pegou-me no escuro, desprevenido, comeu os meus olhos… A morte amor tece…
Gustavo Valério Ferreira 24/05/2018 As madrugadas surgem assombrosas e o lobo, do mal, por elas vagueia uivando às sombras que à noite permeia em densas trevas, nuvens tenebrosas…
A lua, solitária em pesarosas fumaças, é sua única plateia… Lobo solitário, sem alcateia nas noites em caçadas melindrosas…
Uivando e chorando… Por sangue anseia em desejos carnais de carne alheia em fomes notívagas e onerosas…
Morte noturna, sua dispineia, mata vagarosamente a sua ideia de jantas fartas e voluptuosas.
Gustavo Valério Ferreira 23/05/2018 Uma águia na noute, assusta a coruja, e um uivo sombrio logo é ouvido num som de asas no escuro interrompido, um medo que mata e a morte é lambuja…
Uma lua disforme e garatuja presa num céu obscuro e introvertido a perder tempo e a perder o sentido e perdendo tanto, a lua maruja…
E da ave noturna, ouve-se o gemido e num eco retumbante e oprimido foge na escuridão, a dita cuja…
O lobo desiste; está convencido que outra vez ouvirá aquele gemido num luar e numa janta rabuja.
Gustavo Valério Ferreira 22/05/2018 Estamos em tempos lilithianos. Tempos sombrios, amargos e densos onde os tormentos são bem mais intensos e arrastam-se por entre os longos anos.
A lua nasce sem meridianos e morre devagar; sonhos suspensos e vazios, com horrores apensos amedrontam até sumerianos.
Adúlteros morrem em seus pretensos, violentos não serão mais infensos e não causarão nenhum mal, nem danos.
Aqueles que são oprimidos, tensos na dor da vingança estarão propensos a eternizar tempos lilithianos.
Gustavo Valério Ferreira 21/05/2018 Nossas mentes obscuras e maliciosas abismaram-se enquanto faziam o mal; Iludidas distorceram o mapa astral enquanto cantarolavam vitoriosas.
Começaram um amor eterno abismal por entre as nuvens pálidas e nebulosas Voavam entre o céu e o inferno orgulhosas juravam horrores num canto matinal.
Assim viveram estas vidas mentirosas e cruzando dados em somas escabrosas ganharam tudo, mas perderam a moral.
Nossas mentes insanas e perniciosas fundiram-se em metas doudas e desastrosas, mataram-se num poema descomunal.
Gustavo Valério Ferreira 15/05/2018 Maria acordou mui fraca e sem força e fez extrema força p’ra acordar e de dor sentiu o âmago amargar amordaçada em sua vida insossa.
E inda fraca, tentou, triste, voar mas somente afundou na amarga poça a sua mocidade; pobre moça sentiu-se velha e pôs-se a lamentar.
A ave desaprendeu a bater asas então pôs-se a andar em covas rasas, e sem velocidade alcançará
somente aquele fogo quase em brasa e que somente queima, e não enfasa os pesados e mortos, a voar.
Gustavo Valério Ferreira 10/05/2018