Flor De Resistência
Luciano Dídimo
Narração
Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.
Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.
Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.
Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.
Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.
Eu vi aquele vulto na parede
tentando proteger alguma cousa
confuso como pássaro que pousa
na vastidão da noute, mas com sede…
Naquele vulto vi sombria rede
querendo escapulir da grande lousa
com olhos rubros — fogo de quem ousa
na vastidão da noute ter mais sede!
Inerte ali fiquei amedrontado
olhando para o vulto endiabrado
mas sem nenhuma força pra detê-lo…
E o vulto num relâmpago profundo
comeu as almas vis de todo mundo
por sorte despertei do pesadelo!
A droga sempre passageira
arrasta muitos aprendizes
na sombra duma mensageira
que os faz pensar que são felizes.
Maria mui aventureira
fingia bem as cicatrizes
vivia pelas brincadeiras
que a droga dava após as crises…
Pra ter sentido em sua vida
seu rosto (tela tão querida)
devia estar bem maquiado…
Maria não está aflita
descansa agora bem bonita
mas dentro dum caixão lacrado.
Vislumbro a lua tão nublada
sozinha lá nos céus espúrios
suspensa, triste e defasada
por trás das nuvens em murmúrios…
Daqui, do mundo, preso ao nada
escrevo enquanto me torturo
ao ver a minha namorada
minguando o nosso amor tão puro.
Na carência do amor consentimos
que o vazio pesado do peito
ultrapasse o mais alto dos cimos.
E na falta do amor liquefeito
o vazio pesado partimos
com qualquer candidato suspeito.
Conformados gastamos os mimos
esperando que façam efeito
e cansados assim nos ferimos.
Nas belezas da vida sonhava
e sonhando queria ser nobre;
a tristeza presente na aljava
e o destino sonâmbulo e pobre…
Nas agruras da vida penava
e penando criou um alfobre
colocou a tristeza na aldrava
e o caminho do medo descobre…
Descobertas atrozes fazendo
ao fazer as escolhas precisas
formarão em seu peito um adendo:
A beleza e a tristeza são brisas
que soprando na vida vão sendo
as melhores e sérias balizas.
Abraçada comigo e nervosa
No hospital esperando o momento
Já cansada com medo e chorosa
Ostentando no seio um alento…
Lacerada na sala espaçosa
Esforçando-se em muito lamento…
Descansou da labuta escabrosa!
O anjo chora no seu nascimento!
Correria na sala do parto:
— Paciente sofrendo de infarto!
Enfermeira a chorar comovida…
Deus então resolveu do seu jeito:
Recrutou-os ainda no leito
e eu fiquei desolado na vida.
O soneto acima deu um trabalho especial.
As iniciais dos versos nos quartetos
formam a frase “Anjo Ledo” (acróstico).