Gustavo Valério

O Poeta Notívago

EVENTOS FINAIS

Gustavo Valério Ferreira

Descompassos serenos que surgiam
desse céu carregado e solitário
de aflições estelares que desciam
como raio venoso, legatário.

Tempestades tranquilas (pavorosas)
caem fortes nas vidas depravadas
libertando-as das cousas vergonhosas
(falsas cores à beira das estradas).

Os eventos finais que aconteceram
nessa Terra vulgívaga de medo
expurgaram os homens que venderam
almas como se fossem de brinquedo.

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RESSURRETO

Gustavo Valério Ferreira

Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…

Cansado e triste, adormeço triscado
farto daqueles amores espúrios.
Não consegui evitar os perjúrios
enquanto louco cedi ao pecado…

Agora calmo, mantenho o desejo
rijo e veloz de mudar fatalmente.
Fui ressurreto do caos novamente
e contra os males anseios pelejo!

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ROTA OPOSTA

Gustavo Valério Ferreira

Pelos bordéis cruéis da vida louca,
pelas calçadas, de cimento, frias
tu, andarilha perspicaz, seguias
e tua vida suplicava rouca…

Pelas cidades como chuva pouca
eras levada pelas ventanias
sem forças para levantar, sofrias
eras rebelde, mui teimosa e mouca…

Não entendia teu ardil caminho
Nem os motivos pra guardar o ninho
Envolto em dor, flagelos e mistério…

Agora choro sem qualquer resposta
Pois encontramos uma rota oposta:
Eu no hospital e tu no cemitério.

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A PEDRA

Gustavo Valério Ferreira

A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…

Tal ser se achava amargo e mui perdido
pisando sobre todos que encontrava.
Seu coração em dor fluía lava
de frustrações e um ódio reprimido.

Lutava tanto contra o seu barulho
que internamente muito lhe aturdia
nada o mudava pois nem ele via
que a pedra apenas era o seu orgulho.

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TRÊS TOMOS

Gustavo Valério Ferreira

Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…

Tragédias ou comédias são bem-vindas
em tempos idos, pálidos e caros?
Risonho o triste ri dos seus disparos
errôneos alvos, vidas vis e findas…

Por quanto tempo vemos a mentira
periclitando e bagunçando tudo?
Acordaremos desse sono mudo?
Morremos só enquanto o mundo gira…

Perdemos horas, tempos e promessas
fingindo ser aquilo que não somos.
Envelhecemos murchos em três tomos
e vemos como as vidas são possessas.

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ESPELHO MILENAR

Gustavo Valério Ferreira

Cavalgo a morte em sepulcrais caminhos
buscando sonhos nebulosos, bravos…
Desejo achar a multidão de escravos
que sofre e chora nos cordéis de espinhos…

E quando achá-la inundarei os mundos
suspensos sós em vermelhões e medos
de cantos puros, ancestrais e ledos
no espelho níveo dos mortais segundos!

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A BELA DAMA DORME

Gustavo Valério Ferreira

Deitada, descansando em seus delírios
a bela dama dorme mansamente.
Desconfortável sonha e dentre os círios
passeiam ternos anjos docemente…

No sonho, flores raras floresciam
por dentro do seu peito e então brilhavam
e como supernovas reluziam
nos céus escuros que lhe atormentavam…

O sonho parecia ser eterno
pra bela dama ali, acomodada…
Que Deus com todo O Seu Amor paterno
conceda que ela não descubra nada.

A dor do sono etéreo cresceria
e não alentaria a filha amada
se descobrisse que de amor morria
seu velho pai ali na madrugada.

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AS ASAS

Gustavo Valério Ferreira

Asas negras pairando no escuro
sob as ruas vazias e amargas…
São as asas mortais do futuro
bem abertas, sombrias e largas…

Apesar de soturnas e leves
trazem pesos e dores e invernos…
No silêncio das noites, em neves
caem sobre os casebres modernos…

Asas brancas pairando nos ares
sob as casas em choro profundo…
São as asas vitais, tissulares
equilíbrios das dores do mundo!

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DANOS COMPULSÓRIOS

Gustavo Valério Ferreira

O peito pulsa frio como pedra…
Um medo causa danos compulsórios…
Pulmão de pus, de sangue que inda medra
aqueles sonhos belos… Provisórios?

Alertas causam pânicos e panes…
O medo pausa o peito tão descente…
Enfrente o mal de frente, não enganes…
O engano traz derrota permanente.

E o medo, a dor e o peso sufocantes?
Farás cordões vitais indivisíveis!
Terei assim vitórias confortantes?
Importa ter a vida ou sonhos críveis?

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A TEMPESTADE

Luciano Dídimo

Produção sob encomenda do poeta cearense Luciano Dídimo.

narraçãoLuciano Dídimovideossoneto

TERMINAIS INCOLORES

Gustavo Valério Ferreira

Sinto o peso da morte chegando
terminais incolores e aflitos…
Pinto o rosto cismático e brando
confinado em fatais requisitos…

E sonhando com dias saudáveis
(plataformas normais de lipídios)
esse rosto requer responsáveis
que causaram brutais genocídios.

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SONHOS VIRULENTOS

Gustavo Valério Ferreira

Eu, que traço planos negativos
para acalentar os meus tormentos
vou fortalecer os meus ativos
e afastar os sonhos virulentos…

Quero transformar as dores fortes
em impulsos ágeis, mas altivos!
Superar o fardo das mil mortes
com sorrisos puros, não cativos!

Quero, na dolência, as alegrias
mais pujantes, sacras e inauditas!
E terei as vidas mil, bravias…
inda assim serão hermafroditas!

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PEITO COMPRIMIDO

Gustavo Valério Ferreira

Canto à morte e rasgo o peito ao meio,
fujo qual jaguar que a dor castiga,
busco solução mas acho briga…
Não encontro base, só receio…

O ar pesado: o peito o algoz comprime…
Olhos choram ácidos, viroses…
Sol, que sol? Que céu? Visões? Neuroses?
Nego a dor que sinto… Falso crime?

Quedo, calmo, morro e não aceito
tal pesar repleto de amargura…
Vou, a divagar ou porventura
ressurgir de dentro deste peito!

métricaquartetoeneassílabo

DE TIJOLO EM TIJOLO

Gustavo Valério Ferreira

Triste sonho a nascer na bateia:
lama, barro e coragem na enxada.
Muito esforço na vida plebeia
resultando no tudo ou no nada.

De tijolo em tijolo gastando
suas pétalas d’ouro de tolo…
No trabalho a penar, e penando
como grãos, a sangrar, no monjolo…

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AMPLIDÃO

Gustavo Valério Ferreira

Caio nesta amplidão dolorida
fracassado por muitas batalhas…
Ilusórias vitórias na vida
são desejos vitais ou canalhas?

Mas que passo logrei na corrida
que me trouxe as angústias - navalhas?
Quero apenas uma alma florida
mesmo morta em pedaços, limalhas…

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TRISTES SONHOS

Gustavo Valério Ferreira

Relembro quando a tua face bela
pairava em meus esparsos pensamentos;
Teus olhos quais pintura numa tela
fitando os meus, molhados, aguacentos.

E vejo a imagem terna da donzela
a dona deste amásio em sentimentos
e o tempo voa e leva-te naquela
memória doce em sopros turbulentos.

Por que me abandonaste em tristes sonhos
levando aquela voz que me acalmava
trazendo desalentos tão medonhos?

A tua imagem bela foi depor
deixando a minha mente mais escrava
da morte que eu causei ao meu amor…

métricasonetodecassílaboheroico