Gustavo Valério

O Poeta Notívago

O LOBO, A CORUJA E A LUA

Gustavo Valério Ferreira

Uma águia na noute, assusta a coruja,
e um uivo sombrio logo é ouvido
num som de asas no escuro interrompido,
um medo que mata e a morte é lambuja…

Uma lua disforme e garatuja
presa num céu obscuro e introvertido
a perder tempo e a perder o sentido
e perdendo tanto, a lua maruja…

E da ave noturna, ouve-se o gemido
e num eco retumbante e oprimido
foge na escuridão, a dita cuja…

O lobo desiste; está convencido
que outra vez ouvirá aquele gemido
num luar e numa janta rabuja.

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TEMPOS LILITHIANOS

Gustavo Valério Ferreira

Estamos em tempos lilithianos.
Tempos sombrios, amargos e densos
onde os tormentos são bem mais intensos
e arrastam-se por entre os longos anos.

A lua nasce sem meridianos
e morre devagar; sonhos suspensos
e vazios, com horrores apensos
amedrontam até sumerianos.

Adúlteros morrem em seus pretensos,
violentos não serão mais infensos
e não causarão nenhum mal, nem danos.

Aqueles que são oprimidos, tensos
na dor da vingança estarão propensos
a eternizar tempos lilithianos.

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FUSÃO

Gustavo Valério Ferreira

Nossas mentes obscuras e maliciosas
abismaram-se enquanto faziam o mal;
Iludidas distorceram o mapa astral
enquanto cantarolavam vitoriosas.

Começaram um amor eterno abismal
por entre as nuvens pálidas e nebulosas
Voavam entre o céu e o inferno orgulhosas
juravam horrores num canto matinal.

Assim viveram estas vidas mentirosas
e cruzando dados em somas escabrosas
ganharam tudo, mas perderam a moral.

Nossas mentes insanas e perniciosas
fundiram-se em metas doudas e desastrosas,
mataram-se num poema descomunal.

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ÚLTIMO VOO

Gustavo Valério Ferreira

Maria acordou mui fraca e sem força
e fez extrema força p’ra acordar
e de dor sentiu o âmago amargar
amordaçada em sua vida insossa.

E inda fraca, tentou, triste, voar
mas somente afundou na amarga poça
a sua mocidade; pobre moça
sentiu-se velha e pôs-se a lamentar.

A ave desaprendeu a bater asas
então pôs-se a andar em covas rasas,
e sem velocidade alcançará

somente aquele fogo quase em brasa
e que somente queima, e não enfasa
os pesados e mortos, a voar.

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