Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Atos Ruços

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Dormindo sobre os seios perolados
da airosa dama - deusa dos meus sonhos!
Afundo-me em desejos e pecados
e imerso, tenho intuitos mui bisonhos!

A dama, calma e sedutora, dança
e atrai-me para dentro do seu porto!
Seu ruço corpo, trouxe-me a lembrança
que o meu amor fiel estava morto!

Chorei arrependido por meus atos!
Jurei-te: Nunca mais irei fazê-los!
Morri amargurado pelos fatos
na noite negra desses teus cabelos.

O Estio

Gabriel Zanon Garcia

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Deitar-se em versos do mais ledo horror
ao descrever o tão cruel vazio
É como o altar do meu mais negro amor
chovendo os ais durante o crasso estio…

E em tua pele mórbida, um tumor
emurchecendo o teu mais belo brio…
Mas neste sórdido e perturbador
poema, apenas és um sonho frio.

Escravo preso ao teu condão medonho
concedo o amor ao sangue que despejo
enquanto quedo, afundo nesse sonho
e perco a essência para o teu desejo…

Estarrecido, a mão no peito ponho…
Sob tua pólvora a este mar rastejo
ensaguentado e fraco, mas risonho
eu solto um cuspe em teu boçal cortejo!

Versos
1, 3, 5, 7, 10, 12, 14 e 16
por Gabriel Zanon Garcia

Versos
2, 4, 6, 8, 9, 11, 13 e 15
por Gustavo Valério Ferreira

Já Não É Mais Amor

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

No passo do ponteiro do relógio
eu, quedo, cauteloso e espavorido
espero o meu fantasma preferido!
Já não é mais amor, é necrológio!

Aguardo, sempre alegre, os equinócios…
No espelho, aqui, parado e mui perplexo
à meia-noite vejo o teu reflexo!
Já não é mais amor, são nossos ócios!

A morte e a vida presas num ilídio…
Almejo achar o bóson da existência
pra libertar, enfim, a minha essência!
Já não é mais amor, é suicídio!

O Violino

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

O amor que recebi morosamente
bradava no meu peito em alegria
trancando o frenesi que me ocorria
em campos invernais do inconsciente.

O amor que recebi forçosamente
sorveu-me o coração adulterino
e em troca colocou um violino
que toca musicais pulsantemente!

Eventos Finais

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Descompassos serenos que surgiam
desse céu carregado e solitário
de aflições estelares que desciam
como raio venoso, legatário.

Tempestades tranquilas (pavorosas)
caem fortes nas vidas depravadas
libertando-as das cousas vergonhosas
(falsas cores à beira das estradas).

Os eventos finais que aconteceram
nessa Terra vulgívaga de medo
expurgaram os homens que venderam
almas como se fossem de brinquedo.

Ressurreto

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Cantando amores antigos e secos
vou caminhando às escuras nas noites,
vou insultando aos delírios e açoites
e vou morrendo sozinho nos becos…

Cansado e triste, adormeço triscado
farto daqueles amores espúrios.
Não consegui evitar os perjúrios
enquanto louco cedi ao pecado…

Agora calmo, mantenho o desejo
rijo e veloz de mudar fatalmente.
Fui ressurreto do caos novamente
e contra os males anseios pelejo!

Rota Oposta

Gustavo Valério Ferreira

Soneto

Pelos bordéis cruéis da vida louca,
pelas calçadas, de cimento, frias
tu, andarilha perspicaz, seguias
e tua vida suplicava rouca…

Pelas cidades como chuva pouca
eras levada pelas ventanias
sem forças para levantar, sofrias
eras rebelde, mui teimosa e mouca…

Não entendia teu ardil caminho
Nem os motivos pra guardar o ninho
Envolto em dor, flagelos e mistério…

Agora choro sem qualquer resposta
Pois encontramos uma rota oposta:
Eu no hospital e tu no cemitério.

A Pedra

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

A pedra abandonada no caminho
tornou-se a pedra mais indispensável.
A base singular inigualável
dos planos cruciais dum ser mesquinho…

Tal ser se achava amargo e mui perdido
pisando sobre todos que encontrava.
Seu coração em dor fluía lava
de frustrações e um ódio reprimido.

Lutava tanto contra o seu barulho
que internamente muito lhe aturdia
nada o mudava pois nem ele via
que a pedra apenas era o seu orgulho.

Três Tomos

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Cedendo às horas tudo passa lento
na solidão normal da humana lida…
E sopra o vendaval que a dor valida
colhendo frutos vivos desse vento…

Tragédias ou comédias são bem-vindas
em tempos idos, pálidos e caros?
Risonho o triste ri dos seus disparos
errôneos alvos, vidas vis e findas…

Por quanto tempo vemos a mentira
periclitando e bagunçando tudo?
Acordaremos desse sono mudo?
Morremos só enquanto o mundo gira…

Perdemos horas, tempos e promessas
fingindo ser aquilo que não somos.
Envelhecemos murchos em três tomos
e vemos como as vidas são possessas.

Espelho Milenar

Gustavo Valério Ferreira

Quarteto

Cavalgo a morte em sepulcrais caminhos
buscando sonhos nebulosos, bravos…
Desejo achar a multidão de escravos
que sofre e chora nos cordéis de espinhos…

E quando achá-la inundarei os mundos
suspensos sós em vermelhões e medos
de cantos puros, ancestrais e ledos
no espelho níveo dos mortais segundos!