Gustavo Valério

O Poeta Notívago

Decassílabo

O Sofrimento

O sofrimento cintilante impera
No reino humano, onde o amor suspira…
A vida sofre e todo o céu delira:
A morte espreita nossa atmosfera…

O Buraco

Nas asas da desgraça me perdi
Caindo no buraco que cavei…
À noite, tudo escuro, então, não vi
O monstro humano que me transformei…

Futilidades

A pouca força força o homem à forca…
Na fossa, fita os olhos da frieza…
E, fraco, faz-se frágil e, já sem fôlego,
Fenece à fútil frase da Fraqueza…

Prefácio da Agonia

Num pântano repleto de ossaturas
Suspenso, vi-me sob um céu vermelho…
Caindo como chuva as desventuras
Puseram-me, aos poucos, de joelho…

Cobras No Jardim

Num susto, distraído, compreendo
Que há cobras espalhadas no Jardim…
Por isso, continuo me abstendo
Das bocas que praguejam qualquer fim…

Antolhos

As curvas do teu corpo e teus cabelos
Atraem o meu frágil coração…
E, preso nessa doce sensação,
Descubro o grande livro de mil selos…

Pêndulo Da Morte

No peito o medo imprime causa e luta…
Na boca o canto ecoa fraco e breve…
Nos braços lestos há fatal conduta…
Na mente, a morte inspira, doma, escreve…

Sem Razão

Hei-de pedir-te, amor da minha vida,
Que não te vás, assim tão de repente…
Meu peito gela e fica descontente
Imaginando a tua despedida…

Entropia

Muita vez acordo entorpecido
Em vales de ossos secos e aflições…
Disperso, à luz do sonho preferido,
Vago triste em outras dimensões.

Novo Mundo

Atônito morreu o grande brado…
É brando agora o pátrio braço forte.
A liberdade clama à própria morte…
Não soa mais o canto idolatrado…